Reflexão Terça-feira depois da Epifania 1Jo 4,7-10 | Sl 71(72) | Mc 6,34-44


 Continuamos na semana da epifania e a liturgia da Palavra nos conduz à percepção dos sinais da manifestação de Deus. A primeira leitura mostra que Deus se manifesta no amor, porque ele é amor, diz são João. Quando amamos uns aos outros, Deus se manifesta neste amor e o conhecemos. Portanto, quem não ama não conhece a Deus. Foi através de um ato de profundo amor que Deus se manifestou, enviando seu Filho ao mundo, diz são João. Pudemos constatar isso nesse tempo de Natal. A mais estupenda obra da manifestação do amor de Deus é a Paixão de Cristo, que deu a vida por nós, disse São Paulo da Cruz. Assim sendo, a manifestação de Deus consiste no amor que ele tem pela humanidade e que a humanidade deveria ter entre si e por Deus. Ele nos amou primeiro para que aprendêssemos com ele a amar os nossos semelhantes. Assim reza a jaculatória do Sagrado Coração de Jesus: “Jesus manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso”. Um coração capaz de amar e de se compadecer do sofrimento humano, como vemos no evangelho de hoje.
No evangelho, Jesus encontra uma multidão de gente desamparada “como ovelhas sem pastor”. Diante dessa situação de abandono, de descaso, de desamparo, o sentimento de Jesus é de compaixão. A compaixão é aquele sentimento que nos mobiliza, que nos leva a fazer algo para erradicar ou diminuir o sofrimento alheio, porque o sofrimento alheio é também o meu sofrimento. Com a compaixão, o
sofrimento do outro ou dos outros passa a ser o meu sofrimento. Assim, movido pela compaixão, Jesus se põe a ensinar aquela multidão. O evangelho não fala do conteúdo do ensinamento de Jesus, mas dá para imaginar que sejam ensinamentos que os conscientizavam da situação de opressão e de miséria que estavam vivendo. Ensinava-os a não se deixarem ser manipulados como se manipulam ovelhas no
rebanho. Esses ensinamentos conduziam aquela multidão à libertação. Para tanto, é preciso aprender a ser solidário, a partilhar. Sendo assim, a pedagogia de Jesus consiste em ensinar a partilhar. Não partilhar aquilo que está sobrando, que se ia jogar fora, mas o essencial, o pouco que se tem.Enquanto os discípulos se preocupavam pensando que tinham de gastar dinheiro, duzentos denários, para comprar comida para toda aquela gente, Jesus propõe algo prático, simples e profundamente eficaz: partilhar o pouco que eles tinham (cinco pães e dois peixes). Quando partilhamos o que temos não falta para ninguém, mesmo que tenhamos pouco. Assim, vemos que, depois da partilha, todos comeram e ficaram
saciados e ainda sobrou. Jesus não fez nenhuma mágica. O milagre da multiplicação consistiu na conversão do coração dos discípulos e da multidão para partilhar aquilo que eles tinham. Somente quem ama é capaz de se compadecer e somente quem se compadece é capaz de gesto tão nobre como este que Jesus ensina no evangelho de hoje. Desse modo, Deus se manifesta em cada gesto de partilha, em cada solução buscada para resolver a situação de desamparo e sofrimento dos nossos irmãos. Ainda hoje há uma multidão de gente que vive em estado de miséria e de desamparo da parte das autoridades. Cruzar os braços diante desta realidade é ser, no mínimo, conivente com tal situação. É deixar que a multidão continue como ovelha sem pastor. A liturgia nos propõe amar para se compadecer e se compadecer para buscar soluções. Assim, Deus vai se manifestando na nossa vida e nas nossas ações em prol da vida.

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